Cinema no Museu: Exposição do Stanley Kubrick em SP

Inaugurando as colaborações desse blog, minha amiga Amanda invadiu a exposição do Stanley Kubrick no MIS em SP e relata abaixo um pouco do que ela viu. Se você curte Kubrick e por N motivos não pode ir a exposição as linhas abaixo são pra você.

Lembrando que a exposição continua disponível até janeiro de 2014. Mais informações aqui.

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Ilustração roubada daqui e feita por Katsuhiro Otomo.

Kubrick é um diretor que facilmente influenciou a vida de muita gente que gosta de cinema, seja apresentando o medinho com O Iluminado na sua infância, gerando cenas que você “já viu em algum lugar” vide 2001: Uma Odisséia no Espaço ou estando presente nos primeiros filmes-cabeça com Laranja Mecânica. O fato é que o cara é bom – e bom em muitos aspectos, com muita frequência e até os dias de hoje.

Eis que esse mês finalmente chegou ao Brasil (infelizmente, só em São Paulo) a exposição Stanley Kubrick, acompanhada de uma retrospectiva completa de todos os filmes nos cinemas realizada pela 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Fui à exposição como aquecimento para alguns filmes que queria ver na tela grande e funcionou não só pra querer ver todos os filmes dele, mas também pra passar admirá-lo ainda mais.

Ao chegar no MIS (Museu da Imagem e do Som), um enorme cartaz do lado de fora dividido entre o rosto do Jack Nicholson (O Iluminado) e do Malcolm McDowell (Laranja Mecânica), com suas expressões mais famosas, nos lembra a serviço de que viemos à exposição. Claro que o ouro não é entregue de primeira: a montagem criada especialmente pela curadoria do museu é quase cronológica, partindo desde o início da carreira do Kubrick, nos anos 40, como fotógrafo da revista Look e terminando nos projetos não finalizados do diretor, como Napoleão e Aryan Papers. Apesar de linear, a trajetória aparece de forma totalmente fragmentada, onde escadas e corredores nos levam a diferentes salas – que, através da concepção cenográfica, se tornam verdadeiras instalações –, uma dedicada a cada filme.

O primeiro ambiente, ainda no piso térreo, exibe lindas fotos em p/b feitas por Kubrick, mostrando toda a personalidade e talento que tinha mesmo quando trabalhava de modo menos independente. Vemos ali também seus primeiros filmes, documentários em curta-metragem, e muitas lentes e câmeras usadas nos longas, algo presente também em outras partes da exposição, sempre acompanhadas de notas que explicam qual sua função – muitos equipamentos foram praticamente “criados” por Kubrick para obter o resultado desejado.

Depois disso começam as muitas salas em homenagem aos filmes. Música, projeção, cartazes das estreias, roteiros originais, planos de produção e até contas de orçamento, literalmente respondendo a pergunta de “como as pessoas faziam isso naquela época?!”. A cenografia fica cada vez mais presente também, começando pela sala de Glória Feita de Sangue, um corredor com sacos de areia dos dois lados que dá a impressão de se estar dentro de uma trincheira da 1ª Guerra Mundial. Em Barry Lyndon, começamos a ter mais acesso aos objetos originais usados nos filmes, como os lindos figurinos de época – que inclusive, quando olhei de perto, tinham detalhes feitos de lantejoula, algo obviamente inadequado ao século XVIII, mas imperceptível na câmera. O cinema é mesmo a arte da gambiarra, até para o Kubrick.

Chegando nos filmes mais polêmicos, surge a indecisão de qual ver primeiro. Comecei por Lolita, uma sala toda rosa com os famosos óculos da protagonista em formato gigante. Nesse ambiente a sessão de documentos começa a ficar mais interessante: nas paredes, cartas a Stanley de movimentos religiosos preocupadíssimos com a adaptação para o cinema do livro incestuoso de Vladimir Nabokov. O mesmo acontece, claro, na sala dedicada a Laranja Mecânica, que mostra também cartas de expectadores contando sua reação ao assistir o filme (um deles, inclusive, criticando o excesso de violência e a falta de cenas de sexo). Luzes neon, um videowall com cenas do clássico e réplicas em tamanho real do “mobiliário” do leite-bar Korova tentam recompor a vibe do longa. Seria perfeito, se a essa altura do campeonato você já não estivesse tão exigente querendo ver todos os objetos originais.

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Foto por Ana Prieto.

O ambiente para O Iluminado é um dos mais criativos. Corredores obscuros, com alguma intenção labiríntica, imitam as paredes do hotel e sugerem uma sucessão de portas que escondem atrás de si diferentes elementos da produção do filme, estilo casa mal-assombrada de parque de diversões. As portas são enumeradas, sendo a última a do famoso quarto 237, que guarda os machados usados por Jack na tentativa de assassinato da família.

Todas as salas são interessantes em algum aspecto, mas a melhor instalação é, sem dúvida, a de 2001: Uma Odisséia no Espaço. Só de passar a cortina divisora já nos sentimos no filme: o maior ambiente da exposição é completamente branco e iluminado de forma idêntica ao longa, além de possuir o grande monólito negro no centro. O som quase desesperador de emergência da nave em looping faz com que nos sintamos ainda mais inseridos na experiência. Além disso, o material exposto é incrível: a roupa original de um dos macacos, dos astronautas, inúmeros desenhos de referência de arte e de efeitos especiais, livros de inspiração, claquete, roteiros, documentos, maquetes e vídeos que explicam as novas técnicas desenvolvidas; enfim, apesar de não ser meu filme preferido, é difícil sair dali (e do filme no cinema) sem tirar o chapéu pro trabalho que conseguiram fazer ainda no final da década de 60, um ano antes do homem pisar na lua.

No fim das contas, a exposição acaba sendo muito mais que uma mera mostra de objetos que deixariam qualquer fã do cineasta enlouquecido e se torna literalmente uma aula de cinema. Não é a toa que na tarde em que fui contei pelo menos cinco excursões de escola andando lá dentro. Todos pareciam muito interessados pelo passeio, mas com certeza não terminaram tão bem quanto eu, que ainda tive a chance de ter o produtor (Jan Harlan) e a viúva de Kubrick (Christiane Kubrick) sentados na mesa ao lado da minha no café do MIS. Ok, fim do momento fangirl.

Pra terminar:

TOP 5 Kubrick (na minha opinião):
5º) 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)
4º) O iluminado (1980)
3º) Nascido para matar (1987)
2º) De olhos bem fechados (1999)
1º) Laranja Mecânica (1971)

 

Amanda Martinez é paulista e estuda Cinema na FAAP. Além de gostar de Kubrick, está produzindo o curta-metragem Nana Nina Não, um filme voltado para crianças que mistura animação e live-action. Para conhecer melhor e apoiar o projeto, acesse: https://www.facebook.com/projetonina

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